Amor?
Numa casa pequena,
Sombria e quase abandonada,
Diz-se que vivia uma familia
por todos indesejada.
Posso então confessar
Que fiquei intrigada.
E para procurar respostas
Acordei motivada.
Foi por entre rumores que percebi
Que um segredo ali havia,
E com horror descobri
Que na mulher o homem batia!
Sem saber o que fazer
Ou em que podia ajudar,
Dirigi-me à pequena casa
Para com a mulher tentar falar.
A medo me atendeu
E me deixou entrar,
Pois o seu marido a qualquer hora
Podia para casa voltar.
Com tristeza e melancolia
Comigo desabafou,
Contou-me como havia sido um dia
e com que homem se casou.
Da sua tez branca,
Nada restava...
Apenas a marca de surras recentes
Que o próprio marido lhe dava.
Quando lhe disse para se defender
Com medo recuou.
Disse para não me meter
E para fora quase me enxotou.
Sem perceber o fundamento
Daquela reacção,
Perguntei-lhe o porquê?
E ela respondeu-me com o coração:
"Eu prefiro morrer...
Do que dele me separar,
Porque foi com ele que escolhi viver
E é só com ele que vou ficar.
Nunca vou amar alguém
Como amo o meu marido,
Apesar de todas as coisas
Que já possa ter sofrido.
Se algum dia ele me odiasse...
De desgosto ia morrer,
Pois de nada me serve a vida
Sem a pessoa que me faz viver!"
Com isto terminou
E a casa abandonei.
Só então percebi
Que lá o amor é rei!
Sem palavras prossegui
E com uma lição aprendida:
O quanto, por vezes, pode ser cruel
O amor na nossa vida!
Sofia Santos
Este poema é uma excepção, escrevi não porque tenha algo a ver com experiências passadas ou presentes, graças a Deus não tem nada a ver comigo, simplesmente foi uma forma que encontrei para tentar compreender o porquê de muitas vezes, mulheres ou mães de familia se sujeitarem a serem espancadas e humilhadas pelos maridos até um dia eles mesmos as matarem... Dias atrás enquanto jantava, uma reportagem no noticiário despertou-me a atenção, era uma lista vasta com o nome de vitimas dos próprios maridos, desde os 23 aos 82 anos, desde baleada a esfaqueada, mas afinal são seres humanos ou bichos? Este é um assunto que me choca e infelizmente bastante real... No entanto foi a pensar nas mulheres que escrevi este poema e quero acreditar que seja real, o facto de elas aguentarem tudo é por amor e não por medo, que no meio de tanto sofrimento exista algo de bom, algo que lhes faça viver...